"Aquilo que está escrito no coração não precisa de agendas porque a gente não esquece.
O que a memória ama fica eterno"
Rubem Alves
Guardar pra admirar,pra ver,pra lembrar .
Guardar para não esconder,para desabafar,para distrair.
Guardar para escrever,refletir e declarar.
Declamar? Talvez.
Poetizar.Inspirar.Reagir.
Olhando o fim desconfio que os mistériosque estão entre o início e o agoraSão infinitamente mais fascinantes do que qualquer outro suspenseO tempo é inestimávelE as palavras faladas não conseguem dizer tudo que queremOs portos seguros que temos hojeTalvez descubramos que são feitos de areiaE que todo este pó poderá ser levado pela suave brisa diáriaE de repente,estamos novamente acompanhados de nossa pequena solidãoOnde cada porto precisa de outro e,apesar de todos serem apoio,cada um necessitaescolher resistir por si próprio.A fina linha que distanciao antes e o depois,o estar neste mundo ou não mais.Os bens se vão.O conhecimento individual se perde.Os outros ficame permanecem estilhaçados por nossa ausênciaCom cacos de nossa breve presençapor aquiBuscando pequenas maneiras de sereconstruíremcom nossos estilhaçosEscolhendo de nós o que deixamos aqui eque falta nelesEternizando nossa existência.
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
"Um dos maiores fermentos de um relacionamento é a admiração.É desanimante atravessar os dias sem sentir orgulho da pessoa que está vivendo ao nosso lado. É prioritário seguir para sempre pensando que ele é um bilhete premiado. A cada observação perspicaz que ele faz sobre um fato, a cada gesto de solidariedade para com o irmão, a cada bola dentro que ele dá no trabalho, é um alívio pensar: este é o cara que escolhi para estar comigo.
Um sujeito legal."
Admiração :1 Sentimento agradável que se apodera do ânimo ao ver coisa extraordinária, bela ou inesperada.2 Objeto que causa admiração.
“Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, Ele nos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas, e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo.”
Anatomia de uma dor
C. S. Lewis
O sonho encheu a noiteExtravasou pro meu diaEncheu minha vidaE é dele que eu vou viverPorque sonho não morre.
"E sonhos não envelhecem"Sonhos são aqueles presentes que o Eterno nos entrega,para potencializar a alegria de nossas vidas.
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
El regalo que un día llegará
En el día toda la espera en alegría va a tornarse
Y cuando en tus ojos yo finalmente puder fijarme
La concretización de mi certeza ocurrirá
"Que o dia acorde sorrindo
Com aquele sol de espantar poeira
E que o coração esteja quente
Se sinta abraçado e tranquilo
Que o café acorde feliz
Com aquela energia de expulsar preguiça
E que a mente esteja plena
Se sinta em paz e descansada
Que o chuveiro acorde alegre
Com aquele barulho de exalar harmonia
E que o braço esteja forte
Se sinta útil e renovado
Que as palavras acordem vívidas
Com aquele poder de exercer reflexão
E que a mão esteja firme
Se sinta inspirada e poetisa
Que as pessoas acordem radiantes
Com aquela vontade de mudar
E que a inteligencia esteja aflorada
Se sinta motor e balança
Que o sentimento acorde corajoso
Com aquela vontade de se declarar
E que o coração esteja receptivo
Se sinta inspiração e amor "
"Muitos de nós vivem com o peito mais encharcado que roupa esquecida na máquina de lavar, com a torneira aberta. Mais inflado que chester do almoço de domingo. Tem afeto chorando lá dentro, declaração de amor enxovalhada. Raiva presa com rolha na garganta. Desejos desnutridos. Saudade e lembranças mergulhadas em um balde de água sanitária.
Tudo para esquecer, eliminar manchas de experiências marcantes e sensações da história pessoal. A ordem é deixar bem longe o que nos sufoca. Escondido das nossas desconfianças. Inalcançável por nossas percepções.
A gente sente mas não fala. Põe cadeado em pensamento. Vai empurrando as semanas no calendário com a barriga estufada de mutismo doentio. O corpo começa a inchar, vem a falta de ar e ninguém entende o porquê de tanta agonia.
O coração anda molhado, sabemos. Mas tem silêncio que já empedrou nas bocas murchas de afeto. Ele espera ser arrancado a fórceps, que seja, do mundo das delicadezas esquecidas. Ele espera nascer bonito em nossos gestos, vontades e discursos.
Há pessoas que morrem com a boca cheia de formiga. Outras sufocam com multidões de palavras mesquinhas ou egoístas, presas na garganta. Há os que se asfixiam de amores mal ditos. Ou malditos, como queiram.
Ainda os que desconhecem as delícias, tão íntimas por exemplo, da sensibilidade de alguém, como o poeta Mario Quintana. De vez em quando, entre sorrisos, ele deixava escapar: “A melhor coisa é morrer de amor e continuar vivendo”."