domingo, 24 de maio de 2015

Por que não começar?

Renné Michel: Concierge, 54 anos, viúva. Possui um acervo intelectual imenso, lê vários clássicos da literatura, tem conhecimentos sobre correntes econômicas e filosóficas. Se encanta com as palavras, tem as regras gramaticais presentes em sua vida e vê o Belo de toda Arte.

Paloma Josse: Estudante, 12 anos, integrante de uma rica família francesa. É um peixe fora do aquário. Faz imensas reflexões sobre a vida - e a falta da vida- e não se encaixa nos padrões fúteis que sua distinta família apregoa. Planeja um suicídio no aniversário de 13 anos, com o intuito de desconstruir toda essa futilidade da qual está cercada.

Renné e Paloma são personagens de um livro, incrível por sinal, chamado "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery.

Das diversas reflexões que ele traz,uma é a mais essencial e que mais sobressaiu ao decorrer da história :

Analisando as pessoas e as relações, temos que todos sempre escondemos muito de nós. Possuímos reflexões, gostos, desejos, pensamentos, conceitos e sentimentos que guardamos la dentro, de forma que ninguém - ou quase ninguém- tenha acesso àquilo que realmente nos forma.
Tememos que as pessoas descubram quem somos interiormente e desgostem de nós, se afastem e nos fira com seus julgamentos.

"Sou uma concierge, e concierges não leem Tolstoi, então irei fingir que sou ignorante."
"Sou independente e pessoas independentes não temem, então vou fingir ser corajoso,mesmo que não seja."
"Sou uma pessoa forte e pessoas fortes não choram por qualquer coisa, então vou engolir o choro quando me emocionar."
"Sou uma pessoa jovem e pessoas jovens são irresponsáveis, então não vou exigir que as pessoas confiem que eu sou diferente e responsável, pois o que esperam de mim é outra coisa."

Nos auto-rotulamos por aquilo que pensamos que os outros julgam. Criamos uma personagem que tem nossa cara,nossa família, nosso trabalho, nossos amigos, mas que não somos nós mesmos. Convivemos com o constante medo de "se descobrirem quem eu sou de verdade, o que vão pensar de mim?".

Não que tenhamos somente coisas ruins escondidas. Apenas possuímos características que constantemente não mostramos, por sabermos que nosso circulo de convivência não esperava.

O que tememos afinal?
A rejeição?

Pois se rejeitam algo que é do meu personagem, me chateio mas relevo, pois aquilo não sou eu mesma.
Mas e se rejeitarem o que sou na verdade? Como irei lidar com isso?

A questão é: por qual motivo não sermos nós mesmos?

Tememos a falta de reciprocidade. Tememos ser sinceros e o outro não ser.
Se eu fingo, o que me garante que os outros também não farão o mesmo?

Mas se queremos exigir sinceridade dos outros, por qual motivo não queremos também ser sinceros?
Exigimos algo que nem nós mesmos estamos totalmente aptos a oferecer.
Enxergamos no outro algo que nos incomoda não só por estar no outro, mas também por estar vivo em nós.
Queremos que eles mudem antes de nós, pois acreditamos veementemente que sofreremos menos se identificarmos a mudança no outro, para que tenhamos a coragem de mudar em nós.

Mas se ninguém se encoraja, quando a mudança começará?

Continuaremos convivendo com personagens e não com pessoas?

Por que não começar?

"Em todo o caso, o que é certo é que não posso cuidar de mim punindo aqueles a quem não posso curar. "



domingo, 17 de maio de 2015

Conjuga-me

eu lerdo
tu lerdas
Ele ouve
nós lerdamos
vós observais
elas comentam

eu olho
tu lerdas
Ele ouve
nós repelimos
vós rides
eles planejam

eu lerdo
tu analisas
Ele ouve
nós duvidamos
vós reclamais
elas aconselham

eu escrevo
tu pensas
Ele ouve
nós desencontramos
vós impacientais
eles gracejam

eu olho
tu olhas
eles congelam
nós rimos